A corporação de construtores

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A corporação de construtores

No fim do século XVIII, o abade Grandidier, de Estrasburgo, que não pertencia à Maçonaria, foi o primeiro a emitir a opinião, fundamentada nos dados existentes nos Arquivos da Catedral dessa cidade, de que existiam fatos históricos análogos entre a sociedade [associação] de franco-maçons e a dos arquitetos.

Esse mesmo escritor, em uma carta particular endereçada a uma senhora em 24 de novembro de 1778, declarou o seguinte: “Não pretendo recuar a origem da Maçonaria à Arca de Noé, como faz um franco-maçom mui digno. Nem ao templo de Salomão, considerado por algumas pessoas um maçom muito distinto. Também não a recuarei às Cruzadas, para encontrar os primeiros maçons nos batalhões das cruzes, considerados por alguns como dedicados à obra real e divina da reconstrução do Templo. Eu não a buscarei tampouco entre os antigos soldados da Palestina, chamados de Cavaleiros do Oriente e da Palestina. Nenhuma dessas opiniões ridículas, que nem os próprios maçons ousam emitir, salvo sob a nuvem da ilusão, merece que algum profano a revele. Eu me orgulho, senhora, de poder garantir, para tal sociedade, a sua origem mais verídica. Não é preciso buscá-la ‘nem no Oriente nem no Ocidente’. E essa frase ‘a Loja está bem guardada’ não me daria de forma alguma a prova de tais suposições. E, ainda, não tive a felicidade de trabalhar da segunda-feira de manhã ao sábado à noite, mas tive em minhas mãos profanas provas autênticas e verídicas, que datam de três séculos, e nos levam a reconhecer que a sociedade dos franco-maçons não é outra senão uma instituição obreira da antiga e útil corporação de maçons [pedreiros] cujo quartel-general ficava em Estrasburgo”.

Contemporâneo de Grandidier, Joseph de Maistre, depois de ter vivido algum tempo na Ordem, perguntou-se qual seria a origem desses mistérios que não escondem nada, e desses símbolos que não representam nada, admirando-se com o fato de homens de todos os países se reunirem (talvez há vários séculos) para se alinhar em duas fileiras, jurar jamais revelar um segredo que não existia, levar a mão direita ao ombro esquerdo, retorná-la ao ombro direito e sentar-se à mesa. “Por acaso não era possível cometer extravagâncias, comer e beber em excesso sem falar de Hiram, do templo de Salomão ou da Estrela Flamejante…?”.

Essas questões – prossegue Joseph de Maistre – “são em todo caso simples e sensatas. Mas infelizmente não vemos a história, nem mesmo a tradição oral, se dignar responder a respeito. Nossa origem foi sempre envolvida em espessas trevas, e todos os esforços de Irmãos bem intencionados para esclarecer um fato tão interessante estão sendo, até o presente, quase que inúteis”. Maistre, ao escrever isso em 1782, pensava principalmente na solução dos templários, para a qual se inclinavam alguns autores: “Há alguns anos estão tentando nos apresentar, sob a máscara de alegorias maçônicas, as vicissitudes da Ordem dos templários. E a respeito disso, é bom lembrar um axioma que parece incontestável quando se fala em símbolos e alegorias, e que diz que ‘o símbolo que representa muitas coisas não representa nada’”. Praticamente, quase todo o documento de Maistre tende a fazer uma série de reflexões sobre os templários e a Maçonaria, terminando por mostrar a contradição que existe nessa relação e até mesmo sua impossibilidade, a menos que queira cair em um sofisma popular: post hoc, ergo propter hoc. E, no entanto, uma vez rejeitadas a lenda de Hiram e a dos templários, ele propõe como uma solução que achou digna de interesse a das corporações dos construtores de catedrais.

Assim, Maistre e Grandidier chegaram à mesma conclusão, embora, na verdade, por caminhos diferentes. Grandidier não era maçom e se baseava em pesquisas e documentos que ele mesmo descobriu. Maistre, da sua parte, o era, e inspirou-se principalmente em um livro que acabava de ser publicado sobre a história da Grã-Bretanha e no qual se falava do estado das artes na Inglaterra nos séculos XIII e XIV.

O parágrafo de Robert Henri reproduzido por Maistre é o seguinte: “A opulência do clero e o fervor dos leigos forneciam fundos suficientes para a construção de um número tão grande de igrejas e de monastérios que dificilmente se encontravam os obreiros necessários. Os papas,* interessados em favorecer esses tipos de associações, concederam indulgências às corporações de maçons para aumentar o número deles, o que deu certo principalmente na Inglaterra, onde italianos, refugiados gregos, franceses, alemães, flamengos se reuniram e formaram uma sociedade de arquitetos. Eles obtiveram bulas de Roma e privilégios particulares, e adotaram o nome de franco-maçons. Eles passaram de uma nação à outra, onde houvesse igrejas a serem construídas; e, como já dissemos, construíam prodigiosamente. Os maçons seguiam um regulamento fixo. Eles montavam um acampamento perto do edifício a construir. Um intendente ou inspetor tinha o comando como chefe; em cada grupo de dez, um superior conduzia os outros nove. Por caridade ou por penitência, os fidalgos da vizinhança forneciam os materiais e veículos. As pessoas que viram seus registros, nas contas das fábricas de nossas catedrais, feitas há quase 400 anos, só podem admirar-se com a economia e a rapidez com as quais eram construídos os mais vastos edifícios”.

 

Bibliografia:

Arquivos Secretos do Vaticano, José A. Ferrer Benimeli – © copyright by Madras Editora

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