Além da Maçonaria Simbólica

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Será que no nosso século, de invenções e de inovações, atingimos a felicidade?
Será que ainda, somos capazes de sonhar?
E os nossos valores, quais são?
Hoje em dia, o homem sente cada vez mais medo de se ver sozinho, daí talvez, surgem esses prazeres coletivos, com espectadores de rádio, de programa comum de televisão, a busca incessante por alguém na Internet… 
Essa ausência da felicidade conduz às agressões, as depressões, aos crimes, aos suicídios, males que se difundem mesmo nos países mais industrializados. Queremos ser livres e humanos e constatamos os estragos do racismo e dos preconceitos com suas guerras, seus genocídios. Em toda parte vemos a violência explodir, tanto na arte do cinema, quanto na vida do dia a dia. O homem é atingido em sua integridade física, mas, sobretudo moral… O homem vem se atropelando, desesperadamente exagera e força seu ritmo.
Mas diante dessa dura e terrível realidade acreditamos na Maçonaria. E por que entrar na Maçonaria?

A Maçonaria é uma sociedade fraternal, muito antiga, secular, que exige a crença num Ser Supremo como qualificação principal para filiação e que é dedicada à prática da tolerância, respeito e compreensão dos outros; ao fomento de elevados padrões de moralidade entre seus membros; e ao trabalho caritativo. “Moral é para a Maçonaria uma ciência com base no entendimento humano. É a lei natural e universal que rege todos os seres racionais e livres. É a demonstração científica da consciência. E essa maravilhosa ciência nos ensina nossos deveres e a razão do uso dos nossos direitos. Ao penetrar a moral no mais profundo da nossa alma sentimos o triunfo da verdade e da justiça”. Ela também é filosófica, filantrópica, educativa e progressista. 
Aceita todos os homens independentemente de sua raça, cor, nacionalidade ou crença. Tem como princípios, a liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos; a fraternidade de todos os homens, já que somos todos filhos do mesmo criador e, portanto, humanos e como consequência, a fraternidade entre todas as nações. 
 A Maçonaria certamente é isso e faz todas essas coisas; mas de uma maneira difícil de definir ela parece ser ‘algo mais’ além de tudo isso.
Sua estrutura simbólica é muito rica e complexa, que é característica da Ordem. O candidato à Maçonaria é apresentado a esta estrutura simbólica participando de dramas ritualísticos, chamados ‘Graus’, através dos quais ela comunica seus ensinamentos de moralidade velados por alegorias e ilustrado por símbolos. Os símbolos têm origem, em parte, das práticas das ‘guildas’ dos pedreiros medievais.
A interpretação dos símbolos é responsabilidade do Maçom individual; e é no processo desta interpretação pessoal – e de ver os princípios que emergem disso em operação em sua própria vida – que podemos entender a sobrevivência da Ordem Maçônica como um ‘Mistério’.
Como a Maçonaria tem características próprias em cada país, refletindo o temperamento nacional, uma abordagem ampla do assunto seria uma tarefa muito complexa. Para tornar possível tal tarefa, é necessário focar nossa atenção numa forma particular do simbolismo Maçônico. Sendo que os princípios maçônicos gerais são universalmente preservados por todos os países.
O Maçom que segue a Ordem como meio de crescimento pessoal vem a conhecer essas ideias primeiro como conceitos intelectuais e depois, com a prática, ele torna-se consciente de sua realidade através de sua experiência no curso de sua atividade do dia-a-dia no mundo físico. Isto é, de fato, uma abordagem muito velha para o desenvolvimento individual. Ela é baseada na ideia que se alguém faz um esforço real para entender a si mesmo, sua motivação e seu comportamento, a divindade (ou seus agentes) oferecerão as experiências que facilitarão o aprendizado. Durante a cerimônia de Iniciação o candidato é informado ‘….sem negligenciar os deveres ordinários de sua vida, espera-se que faça um avanço diário no conhecimento maçônico’; uma instrução completa ao candidato para que observe o que acontece em sua vida, interprete-a no contexto do simbolismo da Ordem, e aprenda com a experiência. Simbolicamente, ele é introduzido ao tipo de eventos que pode esperar pelo artifício dos dramas ritualísticos chamados os Três Graus. Na Loja Simbólica do Rito Escocês Antigo e Aceito, o primeiro grau é o de Aprendiz Maçom; O segundo grau de Companheiro Maçom e o terceiro grau Mestre Maçom. Existem também os graus Filosóficos; graus Capitulares; graus de Kadosch; graus do Consistório e por último o Colégio de Grandes Inspetores Gerais do Rito.
A Maçonaria é sem sombra de dúvida uma Escola Iniciática, alicerçada nos símbolos e na tradição. Cabe ao recipiendário praticar e absorver cada palavra, cada símbolo e vivenciá-los na sua existência. Nossa Ordem não oferece uma mudança imediata de sua personalidade. O que ela oferece é um caminho árduo e de autopercepção, que permitem que o recipiendário encontre uma verdade e sua liberdade… Isso quer dizer que a maçonaria nos transmite os valores das virtudes como Honestidade, Caridade, Fidelidade, Humildade, Amor, Equilíbrio, Felicidade…etc. 
A Maçonaria, em seu conceito intelectual e moral, é a filosofia que encerra o mais alto padrão de Bem, para o indivíduo e para a sociedade. É a escola do aperfeiçoamento intelectual, moral e espiritual do indivíduo, para combater os vícios e preconceitos, as superstições e ignorâncias, o fanatismo, o egoísmo, as ambições, o despotismo. Sempre em busca da verdade e da justiça, da sabedoria e do dever, do direito e do bem. Luta, pois, em prol da felicidade do homem pela edificação do templo da virtude, para a honra do Grande Arquiteto do Universo, (GADU=DEUS). Trabalha com o aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, a fim de que seus componentes sejam mais felizes ou menos sofredores, graças a maior compreensão entre eles, pela prática constante da Fraternidade. 
Tem por princípio a tolerância mútua, o respeito para com os outros e não impondo dogmas, portanto, não exigindo subserviência espiritual, concede aos seus componentes, amplo direito de pensar, de discutir livremente. Considera as concepções metafísicas como sendo do domínio exclusivo da apreciação individual dos seus membros, e não admite afirmações dogmáticas que não possam ser debatidas racionalmente.

Os seus componentes devem esforçar-se para aprimorar-se espiritualmente, devotar-se à prática do Bem, sem ostentação, não por vaidade e sim como imperioso dever de Solidariedade Humana. Auxiliar o próximo, não é um favor e sim o cumprimento do dever. O Maçom trai o seu juramento, quando perde uma oportunidade de fazer o Bem. O que para muitos profanos é um ato meritório, para o Maçom é um dever imperioso e sagrado. O Maçom deve solidarizar-se com o seu semelhante, sem buscar investigar a sua procedência ou o seu credo religioso. O essencial, é que o homem creia em um Ser Supremo, que é Deus. Os Maçons tem por dever especial, em todas as circunstâncias da vida, ajudar, esclarecer e proteger os seus irmãos, defendendo-os contra as injustiças dos homens. Considera o trabalho como um dos deveres essenciais do homem honrado, igualmente tanto o manual quanto o intelectual. A Maçonaria pode ainda ser definida como: Uma instituição humanitária e sublime que exalta tudo o que une e aspira a fazer da humanidade uma grande família de irmãos, e que se põe sempre a serviço dos movimentos realizadores. Uma instituição de paz e amor, aberta às mais nobres aspirações. Onde se realiza a união necessária e fecunda do coração. Onde se adquire o equilíbrio interior, onde os caracteres se afirmam e se consolidam. Uma instituição em que a Fraternidade é uma influência ou guia espiritual para a concepção mais nobre e mais elevada da vida, e que não seja contra ninguém, porque, é uma força, indestrutível, nobre, generosa, porque é a luz da razão. Uma instituição que prepara o terreno onde florescerão a justiça e a paz. Sua única arma é a espada da inteligência. Como podemos observar, são várias as definições que podemos dar à Maçonaria, e que em nada muda a sua essência, pois, sempre prega a união, o amor, a solidariedade e a fraternidade.
Uma outra breve sinopse, da origem da Maçonaria.
Os primórdios da Maçonaria são obscuros, bem como parte de sua história. Segundo a opinião quase unânime dos historiadores sérios que a estudaram, sua origem é a mais verdadeira e verossímil: ela descende de antigas corporações de mestres pedreiros, construtores de igrejas e catedrais, corporações estas, formadas na idade média. O vocábulo Maçonaria, em francês “Maçonierie”, é derivado do inglês “Mason” que quer dizer, pedreiro. Qual a relação entre o pedreiro e o Maçom atual? A Maçonaria apresenta duas fases: a primeira, operativa e a segunda especulativa. Na primeira, os seus componentes operavam materialmente, eram trabalhadores especializados. A segunda fase é denominada especulativa, de vez que os seus adeptos são homens de pensamento. Desde a antiguidade, os construtores que detinham conhecimentos especiais, constituíam uma espécie de aristocracia em meio das demais profissões. Formavam como que colégios sacerdotais. Na Idade Média, os construtores de catedrais e palácios eram beneficiados, por parte das autoridades eclesiásticas e seculares com inúmeros privilégios, tais como: franquias, isenções, tribunais especiais, etc. Daí a denominação francesa de “Franc-Maçom”, traduzida como pedreiro-livre. A arquitetura constituía então, as artes Reais, cujos segredos, eram transmitidos somente àqueles que se mostrassem dignos de conhecê-los. Havia entre aqueles construtores como que um Ideal, a construção de uma obra suprema, mediante um trabalho constante. Seria o Templo Ideal. Os pensadores e alquimistas da época, combatidos pelos espíritos menos esclarecidos, eram perseguidos e buscavam refúgio entre os pedreiros-livres, capazes de protegê-los pelos privilégios que tinham. Eram alguns aceitos. Daí a denominação de Maçons Aceitos em contraposição a Maçons Antigos, os construtores. Claro que nem todos podiam ser aceitos. Faziam sindicâncias e apenas alguns eram admitidos, porém depois de submetidos a uma série de provas que constituíam a iniciação. Os iniciados juravam guardar segredo dos ritos(*) e respeitar as regras. No século XVI, aumentou consideravelmente o número de Maçons, com predominância para os do rito “Rosa-cruz” inglês, entre eles, Elias Ashmole, alquimista, que ingressara com um grupo de amigos, teólogos em 1646. A partir daí, por iniciativa dos novos membros, organizou-se uma sociedade, cujo objetivo era a construção do Templo de Salomão. Elias Ashmole obteve permissão para que a sociedade realizasse suas reuniões no Templo Maçônico. De pouco em pouco, os elementos precedentes da Fraternidade Rosa-Cruz (Instituição secreta que dedicava-se ao estudo do esoterismo, alquimia, teosofia e outras ciências ocultas) passaram a preponderar na Maçonaria, introduzindo nela muito de seus símbolos. Modificaram-se os rituais, sobretudo a parte referente à iniciação. Primitivamente havia na hierarquia Maçônica apenas os graus de aprendiz e companheiro, pois que o Mestre era somente o encarregado da direção, o supervisor, de uma construção. Em 1664, foi criado o grau de Mestre por Elias Ashmole, formando assim, a base definitiva das hierarquias maçônica. Posteriormente, a Maçonaria tomou grande impulso na Inglaterra, quando se operou grande transformação, orientada por Jacques Anderson, presbítero londrino, diplomado em filosofia, e Desaguilliers, de origem francesa, Grão-Mestre inglês, eleito em 1719. A partir de então, passou a Maçonaria a desenvolver tendências para a instituição filantrópica. Em 1723 foi aprovado o Livro das Constituições Maçônicas, revisto por Jacques Anderson. Sendo chamado de Constituição de Anderson, tornou-se pouco tempo a Carta da maior parte das lojas. Propagavam uma doutrina, sobretudo, humanitária, deista, espiritualista, aberta a todos os cristãos, qualquer que fosse a sua seita, e leal aos poderes públicos. Esta origem, ligada aos construtores da era medieval explica o porquê, da simbologia maçônica estar toda ela relacionada ao tema construção. Seus símbolos mais conhecidos, até mesmo pelo observador mais desatento, são os instrumentos do pedreiro: o esquadro, o compasso, o prumo, a régua, o nível etc. Todo Maçom está imbuído do propósito da construção: construção do templo da virtude e da verdade, construção de si mesmo, de seu caráter e de sua personalidade. Construção de um mundo melhor.
Ao pesquisar várias obras dos mais diferentes autores para podermos transmitir esse texto, surgiu-nos algumas questões:
Não esta muito simples escrever a respeito da história de uma das mais importantes Ordens do Mundo? Será que a Maçonaria não esta ligada a magnífica civilização Egípcia? Não seria ela uma Escola de Mistérios? Não teríamos uma ligação com os Mistérios Elêusis? Não herdamos nada dos Persas? Dos Bramanes da Índia? E dos Cavaleiros do Templo, qual foi nossa herança? E a nossa Tradição, vem de onde, qual é a sua fonte?
(*)Existem diversos ritos Maçonaria. Rito é uma sucessão de palavras, gestos e atos que, repetidamente, compõe uma cerimônia (religiosa, na maior parte das vezes). É um conjunto de atividades organizadas, no qual as pessoas se expressam por meio de gestos, símbolos, linguagem e comportamento, transmitindo um sentido coerente ao ritual.
Segundo, Joaquim Gervásio de Figueiredo, rito do latim rictus = cerimônia; Solene ato religioso e, por extensão, qualquer das práticas e fórmulas usadas nos diferentes cultos; (…) na Maçonaria (…), o conjunto de regras segundo as quais se praticam as cerimônias(…) 
De fato, é um laurel da Maçonaria Brasileira a Pluralidade de Ritos, porque o exercício de Ritos Regulares faz com que a nossa Obediência abrigue, generosamente, as várias correntes Filosóficas e Doutrinárias do Mundo Maçônico, desde o Agnosticismo até o Teísmo. Seria um atentado à História e à Justiça se, em obediência a imposições ilegítimas e alienígenas, criássemos agora obstáculos aos Ritos”. Álvaro Palmeira, Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil – 1963/1968.

Podemos observar esta dimensão adicional, em parte, porque a Maçonaria sobreviveu por vários séculos, enquanto que outras organizações fraternais aparentemente similares desapareceram; e, também, porque através de sua história ela polarizou as melhores mentes e os maiores líderes de suas épocas.
Até recentemente pensava-se que o surpreendente ressurgimento da arte e da atividade intelectual chamado ‘Renascença’, era o resultado da interação de duas escolas de pensamento: o Escolasticismo e o Humanismo. Apenas depois da segunda grande guerra é que os historiadores reconheceram que a revitalização popular do misticismo Ocidental, no fim de 1400, na forma do que hoje chamamos de tradição Hermética/Kabbalística, foi uma terceira escola, que, aliás, exerceu uma das maiores influências. É este terceiro ramo de pensamento que nos interessa, tanto pelo ponto de vista histórico como porque, muito do material Maçônico atual refere-se à literatura dessa tradição.

A Tradição Mística Ocidental foi introduzida nesta turbulenta situação intelectual no fim do século quinze. Dois Florentinos, membros do círculo Médici, foram particularmente influenciados a esse respeito. Cada um deles foi buscar seu material de cantos opostos do Mediterrâneo. Em cerca de 1460, Cosimo di Médici, comprou um manuscrito que tinha sido recuperado da Biblioteca de Constantinopla antes que ela fosse capturada pelos Turcos em 1453. Os documentos manuscritos apresentam uma literatura de experiência mística num idioma astrológico Egípcio. São hoje conhecidos como ‘A Hermética’, e reconheceu-se que tinham sido escritos no século dois ou três de nossa era, provavelmente em Alexandria. Entretanto, Marsílio Ficino, o estudioso e monge italiano que os traduziu para Cosimo di Médici, concebeu que eles eram o trabalho de um egípcio chamado Hermes Trimegisto que ele reconhecia como contemporâneo de Moisés. Por causa deste erro, que não foi descoberto até o começo do século dezessete, a Hermética foi considerada pelos estudiosos da Renascença como uma profecia pagã(*) do Cristianismo, e foi por isso (ao menos por algum tempo) uma literatura aceitável para estudo nos meios Cristãos. 
Pico della Mirandola era um filósofo e escritor e também membro do circulo Médici. Seus interesses recaíram nos fragmentos de Kabbalah que tinham chegado à Itália provenientes das escolas judaicas da Espanha. Tinha havido uma rica troca de idéias entre estudantes do misticismo Cristão, Muçulmano e Judeu durante o período de domínio Árabe, e com a expulsão dos judeus da Espanha em 1492 um grande volume da literatura kabbalística difundiu-se através do Norte da África e Europa. Uma grande parte dela foi para Florença onde Pico a estudou entusiasticamente. A Igreja permitiu-lhe prosseguir seus estudos porque provando que Jesus era o Messias, usando métodos kabbalísticos, estaria apresentando uma autenticação judaica ao Cristianismo. 
Dentro da Igreja Romana propriamente dita, havia um grande e influente apoio a este corpo de pensamento Hermético/Kabbalístico que estava abrigado da escola neoplatônica de Florença. Por exemplo, Francisco Giorgi, um proeminente Veneziano, político, monge franciscano e diplomata, (Henrique VIII consultou-o a respeito de seu divórcio de Catarina de Aragão), foi o autor de ‘Di Harmonia Mundi’, que tratava o assunto em detalhe. Perto do fim do século quinze, quando já tinha se espalhado o reconhecimento da necessidade de algumas reformas clericais, ele e outros que compartilhavam de suas idéias, propuseram uma combinação da tradição Hermética/Kabbalística e do misticismo Franciscano como meio de infundir uma nova espiritualidade dentro da Igreja. Isto aconteceu três quartos de século antes da Igreja estar pronta para qualquer reforma, e assim, só serviu para recrudescer o conservadorismo ao invés de implantar qualquer revitalização mística. No entanto, com sua aceitação pelo circulo de Médici e com substancial apoio clerical, a tradição Hermética/Kabbalística floresceu na Itália durante o começo do século dezesseis e espalhou-se pela Alemanha, Países Baixos e Inglaterra.
Em 1542 a Igreja restabeleceu a Inquisição Papal em resposta às atividades das Igrejas Protestantes na Itália; a Renascença Italiana e sua Filosofia Mística acabaram no mesmo ano. As obras de homens como Pico e Ficino foram proscritas, e mesmo os trabalhos de religiosos como Francisco Giorgi foram censurados. Mais ao norte, entretanto, a influência da Igreja Romana não era tão forte, e as mesmas forças que deram às Igrejas Protestantes tempo e espaço para se desenvolverem também criaram uma situação na qual homens como Erasmus, Agrippa, Durer e Reuchlin pudessem explorar a tradição Hermética/Kabbalística sem perigo de perseguição.
Sabemos que a tradição também era estudada na Inglaterra durante a segunda metade do século dezesseis, pois quando o italiano ligado ao hermetismo, Giordano Bruno, visitou Oxford em 1583 ele aparentemente tentou passar alguns escritos de Ficino como se fossem seus e parece que foi tratado da maneira grosseira com a qual Oxford trata esses casos. Há, de fato, grandes evidências indicando um vivo interesse nesta tradição mística Renascentista na Inglaterra durante a segunda metade do século dezesseis, período durante o qual a Maçonaria especulativa estava certamente tomando forma. Os trabalhos literários do período indicam que proeminentes escritores como Spencer, Sidney, Chapman, Shakespeare, Milton, Bacon e Fludd estavam todos familiarizados com, e em alguns casos ativos defensores e praticantes da tradição Hermética/Kabbalística. Sabe-se que a influente – e mal interpretada – figura, John Dee, tinha em sua biblioteca todos os mais importantes livros sobre o assunto; e sua introdução à tradução inglesa de Euclides indica sua familiaridade com esse material.
Estes sábios, como muitos da comunidade acadêmica da renascença, tinham uma visão particular do mundo que não é encontrada frequentemente entre acadêmicos, ou entre os ocidentais em geral, hoje em dia. Parece que eles consideravam o Mundo Físico, a Psique, o Espírito, e a Divindade como um espectro do fenômeno, uma espécie de dimensão. Nessa dimensão, alguém poderia, com o treinamento adequado, ser consciente em vários níveis. O domínio desta ‘Dimensão de Consciência’, que se estende por toda a existência, do material ao Divino, e a habilidade para operar nos seus diversos níveis, era o objetivo que parece ter sido perseguido por uma grande parte da comunidade acadêmica Renascentista nos séculos dezesseis e dezessete.
Aqui, no começo do século dezessete, nosso foco precisa centrar-se na Inglaterra, pois é ali que encontraremos os fatos que mais provavelmente levam à formação das primeiras Lojas Maçônicas; quase certamente é ali que acontece a primeira aparição pública da Maçonaria especulativa. Quando James I e VI chegou ao trono em 1603 a situação intelectual estimulante que tinha caracterizado a Inglaterra Elisabetana mudou significativamente. James era um homem supersticioso, marcadamente temeroso a respeito das tradições místicas Renascentistas, provavelmente porque as confundia com feitiçaria. Ele voltou as costas a todos os aspectos desta área do pensamento Renascentista; e parece certo que aqueles que quisessem desenvolver estudo na tradição Hermética/Kabbalística tinham de fazê-lo com muita discrição. Esta situação perdurou por todo o turbulento século dezessete e as atividades dessas pessoas é muito difícil de investigar depois de 1603. Em torno de 1650 há evidência de envolvimento com as tradições místicas Renascentistas entre os membros do ‘Invisible College’, o provável ancestral da ‘Royal Society’, que se reuniu primeiro em Londres e depois em Oxford. Achamos que também eles sentiram a necessidade de afastar-se, ao menos publicamente, daquelas tradições antes que a Sociedade fosse realmente fundada.
No primeiro quarto do século dezessete, praticamente ao mesmo tempo em que se tornou necessário agir com discrição na prática dos Mistérios, encontramos registros na ‘Worshipful Company of Freemasons’ (Venerável Companhia de Maçons) da cidade de Londres relatando ‘aceitação’ de membros, uma palavra geralmente utilizada para indicar a existência de uma fraternidade filosófica ou especulativa de ‘maçons aceitos’ dentro daquela organização de artesãos operativos. Pela metade do século dezessete a Companhia de Maçons estava em sério declínio como um corpo controlador do comércio de construção em Londres. Historiadores Maçônicos consideram que é uma presunção aceitável que, por volta de 1665 uma proporção substancial e crescente dos membros da Companhia de Maçons de Londres eram maçons especulativos – Maçons que tinham sido aceitos pela fraternidade filosófica sem estarem associados à ordem operativa. 
 Assim, aqui está a situação na Inglaterra do século dezessete. Por um lado, no começo do século há um proeminente corpo de homens influentes e bem educados interessados na tradição Hermético/Kabbalística; os quais, durante as turbulentas décadas medianas do século, perceberam que era necessário ser progressivamente mais discretos na busca de seus interesses. Por outro lado, há uma ‘Guilda’ de Construtores operativos em declínio que por volta de 1665 apresenta um aumento significativo no número de seus associados cujos interesses residiam nos ensinamentos místicos que se acreditava estavam preservados no núcleo das referidas ‘guildas’. Cerca de cinquenta anos mais tarde, em 1717, quatro Lojas que tinham se encontrado “desde tempo imemorial’ uniram-se para formar a Grande Loja, a primeira organização Maçônica especulativa reconhecida; inclusive, já possuíam um sistema de simbolismo emprestado tanto das Corporações de Pedreiros operativos quanto da Tradição Mística Ocidental. Não é necessário muito esforço de imaginação para, traçando essas duas linhas sugerir que entre os ‘Maçons Aceitos’ dentro da London Company estavam, de fato, alguns daqueles homens educados que, temendo por suas vidas, buscavam seus interesses místicos com discreta privacidade; e, de fato, há abundantes evidências, nos periódicos da época, para mostrar que a existência de tal grupo era genericamente admitida”.
Os estudos filosóficos da Ordem deviam estar em concordância com o pensamento da época, pois desse pequeno começo em Londres em 1717 , a Maçonaria espalhou-se com extrema velocidade. Por exemplo, Grandes Lojas foram estabelecidas na Irlanda em 1725, na Escócia em 1736, na Alemanha em 1737, na Dinamarca em 1745, e nos Paises Baixos em 1756. A data da primeira Maçonaria Francesa é obscura, mas com certeza anterior a 1735. Lojas sob Constituição Inglesa foram estabelecidas nas Colônias Americanas muito cedo; em Boston em 1733, em Charleston em 1735, e também em Savannah, Philadelphia e New York quase na mesma época. A Ordem tornou-se muito popular na comunidade intelectual das Colônias, e teria uma profunda influência na formação dos Estados Unidos da América. Durante a era Napoleônica, Maçons franceses estabeleceram Lojas por todo o Mediterrâneo e na África, e no século dezenove Lojas sob Constituição Inglesa e Holandesa foram estabelecidas por todo o mundo.

Por Wagner Veneziani Costa

(*) Do latim “paganus”: Literalmente, “homem do campo”, “camponês” ou “aldeão”.
Segundo alguns, o paganismo é, na verdade, uma cultura, tal como a Cultura Oriental, Cultura Ocidental, Cultura Aborígene, etc, etc. E, como toda cultura, ele também tem uma espiritualidade típica (que podemos chamar, antropológica e sociologicamente, de “religiosidade”) que pode se traduzir em diferentes religiões. Mas o Paganismo em si, não é uma religião. O correto seria falarmos que a Wicca, a Bruxaria Italiana, a Bruxaria Ibérica (para ficar em poucos exemplos) são religiões pagãs, ou seja, religiões que manifestam a cultura pagã.
A principal característica é, sem dúvida, uma forte ligação à terra, à natureza, tida como sagrada e viva. Uma religiosidade baseada no feminino, representado pela Grande-Mãe. 
Organização social baseada na partilha e na fraternidade. 
Organização politica matrifocal, onde a rainha e/ou a sacerdotisa é uma função permanente e hereditária, que confere, por associação, legitimidade ao rei. 
Desenvolvimento de uma medicina natural, baseada nas qualidades curativas das ervas, e xamânica, baseada no poder fértil da Natureza e na relação mágica com a realidade. 
A sacralidade da Terra levou à ausência de templos, o que, no entanto, não impede a noção de Sítios Sagrados, em geral bosques, poços ou montanhas. Templos pagãos são um desenvolvimento muito posterior.

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