CADERNO DE ESTUDOS GOB As Luvas, Os Obstáculos e as Posturas

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As Luvas

 

Quando o neófito cumpriu todos os compromissos da Iniciação e após ter recebido o Avental, o Venerável Mestre diz: “Essas luvas são o símbolo da vossa admissão no Templo da Virtude e indicam, pela sua brancura, que nunca deveis manchá-las, indenes as vossas mãos das águas lodosas de vício.”

Recebe, então, o neófito um par de luvas para si e outro, para entregar à mulher que “mais direito tiver” à sua estima.

A luva deve possuir a sua história, no entanto, esta é desconhecida; sabe- se apenas que as primeiras foram confeccionadas com peles de animais para proteção. Os esquimós, antes de entrarem em contato com a civilização, já tinham em sua indumentária as luvas que usavam para proteção contra o frio.

Nos museus europeus, o exemplar mais antigo data de época recente, do século XIII, e serviam como proteção, adorno, caça com falcões, para a guerra, o aprisionamento, o esporte, o trabalho, a decoração e a ciência.

As primeiras luvas não possuíam lojas para cada dedo e eram confeccionadas de pele de animais; posteriormente, passaram a ser feitas com fazendas, tecidas, bordadas ou trabalhadas em metal.

Na Maçonaria, o seu uso é moderno. Elas simbolizam a candura do cordeiro, pois devem ser confeccionadas de pele de cordeiro, e a brancura da pureza. O maçom deve ser manso e puro. O segundo par que ele recebe  deverá entregar à mulher que for digna de ser amada. Não será, todavia, obrigado a fazer a entrega imediatamente, e poderá reter o segundo par, consigo, até que encontre a pessoa digna de recebê-lo.

As mãos são os instrumentos por excelência de todo trabalho e ação; a ninguém é permitido manchar as suas mãos, seja pelas ações delituosas, seja manchando-as de sangue, vitupério, seja desonrando-as pelas suas atitudes indignas e menos dignas.

As mãos não se devem manchar nem sujar, evidentemente, no sentido figurativo.

Uma nódoa “moral” não se lavará jamais, pois será indelével.

Desde Pilatos, quando simbolizando sua neutralidade na condenação de Jesus, mandara vir água e lavar as mãos (São Mateus 7:24); a expressão “lavar as mãos” ficou consagrada como quem não deseja participar de algum evento de monta.

O neófito resultou limpo e puro da Iniciação, pois passou pela prova da água e do fogo e jamais poderá retornar ao passado e cometer ação que lhe possa enodoar as mãos.

Conservando as luvas recebidas, terá sempre presente a cerimônia e pautará a sua conduta de conformidade com os postulados de elevada moral da Maçonaria.

 

 

<p>Os Obstáculos</p> O candidato realiza três viagens simbólicas, antes de prestar o seu juramento e nessas viagens encontra sérios obstáculos para transpor.

A primeira viagem simboliza as intempéries e os perigos da natureza. Hoje esses perigos quase não subsistem em face da evolução dos meios de transporte e porque o homem já dominou em grande parte as revoltas da natureza. Os ventos, as águas, os raios, são elementos neutralizados; mas em épocas remotas, constituíam para o viajante obstáculos temidos; era temeridade encetar uma viagem pelos mares, enfrentando as procelas, os lugares encantados e mesmo as calmarias; transpor o cabo das Tormentas, da Boa Esperança e os locais temidos demandava grande coragem.

As viagens simbólicas, porém, não significam os perigos físicos, os riscos naturais, mas sim as ciladas do próprio Ego. Os caminhos difíceis e cheios de obstáculos constituem séria advertência e preparam, enrijecem, temperam o indivíduo no sentido de não sucumbir à tentação de contornar os perigos. As dificuldades não devem ser contornadas, mas enfrentadas e superadas.

O egoísmo somente pensa em seu próprio bem-estar e não se atém às necessidades dos demais. As tempestades prenunciam o bom tempo.

A intempérie da Vida é a luta entre o Ego e o Eu. O Iniciado contempla no palco da Vida a atuação de seu Ego sem, contudo, identificar-se com ele. O Ego abala-se com a tempestade, sofre as rajadas do vento, receia o granizo e teme o raio; mas o Eu contempla serenamente essas vicissitudes, porque sabe que está colocado acima de qualquer perigo.

Não é importante o que acontece ao redor do Iniciado, porque tudo aquilo que vem de fora não lhe poderá fazer mal.

Deverá temer, sim, o que possa sair de seu íntimo; uma palavra áspera, um pensamento inadequado, uma atitude insólita, são perigos reais a que o Eu deve alertar-se. “O que de fora entra no homem não torna o homem impuro, mas só o que sai de dentro dele.”

“O mal que os outros me fazem não me faz mal, porque não me faz mau — somente o mal que eu faço aos outros me faz mal, porque me faz mau.”

Os estóicos da Antiguidade entregavam-se à imperturbabilidade; os yogues e orientais sabem que podem superar a agitação e reentrar em si mesmos, no seu Eu imperturbável.

A Vida é uma tragicomédia. O profano faz parte da peça e atua como um “títere”, levando muito a sério o papel que desempenha. O Iniciado vê-se obrigado a tomar parte na representação, mas tem a consciência de que está atuando em um palco; sabe que é um comediante.

O homem Ego é um pecador (pecado no sentido físico-mental-emocional) e sua redenção jamais poderá surgir desse Ego.

Não será o Ego que redimirá o próprio Ego. É preciso um Poder mais alto e esse Poder é o Grande Arquiteto do Universo, identificado com o Eu interno, que o Cristianismo denomina de Cristo.

O apóstolo São Paulo na carta que escreveu aos Romanos (7:19) assim se expressava: “Está em mim o querer o bem, mas não o poder; pois não faço o bem que quero, não sou eu que ajo (meu Eu divino), mas sim o pecado em mim (o ego humano). Infeliz de mim! Quem me libertará desse corpo mortífero? (desse ego humano). A graça de Deus, por Jesus Cristo (o Eu divino)”.

São os “dois eus” em conflito; é claro que para o homem resulta muito mais cômodo seguir o impulso do Ego que escutar a orientação do Eu.

São Paulo compreendeu muito bem o mistério e como Ego entregou-se totalmente ao Eu redentor e então pôde dizer feliz: “Já não sou eu (meu Ego humano) que vive. O Cristo (meu Eu divino) é que vive em mim.”

Na segunda viagem, o candidato percorre sobre um terreno plano, porém durante o percurso ouve de todos os lados o tinir das espadas.

Ninguém poderá somar uma vitória sem lutas renhidas. O tinir das espadas evoca o passado, quando as batalhas apenas constituíam de um corpo em duelo individual; primeiramente as espadas eram de cobre; foram substituídas pelo bronze, ferro e muito depois pelo aço.

O instrumento de morte teve sempre o aperfeiçoamento necessário para melhor eficiência.

A batalha tem representado sempre a violência e a disputa; a rivalidade e a conquista; o sangue e a morte.

Durante uma batalha, uma parte sairá vitoriosa e com vida; a outra, derrotada e sem vida.

A vida será o que menos importa, a não ser para o profano que nada sabe sobre a Verdadeira Vida; a sobrevivência; a ressurreição, seja, enfim, com que expressão se possa descrevê-la.

O que está além-túmulo é o que importa, porque será permanente e eterno.

O Iniciado deverá estar capacitado a compreender que é uma criatura que foi colocada no mundo por um Criador que faz tudo perfeito, definitivo e permanente.

A obra de Deus é perfeita. O homem é perfeito, mas na sua Vida Verdadeira; na sua harmonização perfeita com o seu Criador.

Se na primeira viagem o neófito teme a violência da Natureza e crê encontrar-se em perigo, na segunda viagem, sente esse perigo muito mais próximo.

Terá, pois, que pensar e decidir. A Maçonaria é uma Instituição que existe para aqueles que nela depositam fé.

Tudo o que se edifica sobre a dúvida desmorona; a fé é o sustentáculo daqueles que sentem a existência de alguma coisa de mais valor e real. A Verdade apóia-se, sempre na fé, até sua total descoberta. A Grande Libertação abre mão do poder da fé, mas até lá o neófito tem necessidade de confiar em alguém. Durante as suas viagens, confia no Experto a quem não conhece e não vê. O Experto simboliza para ele a fé. Sem o sustentáculo do braço do Experto, o neófito não pode realizar as suas viagens.

O neófito somente sairá triunfante da sua longa jornada se entender o significado simbólico da Vida.

A terceira viagem, o neófito a realiza sobre um terreno sem obstáculos, sem ruídos.

É o percurso mais difícil, mais longo e perigoso. É o silêncio da imensidão do Cosmos.

Ele não é mais mortal, pois ultrapassou o umbral da vida terrena; está realizado em Deus e venceu o dilema de seus dias de profano. Entendeu o que seja a sobrevivência, o além-túmulo, o post mortem, a Vida Verdadeira. Entrou dentro de si mesmo e encontrou o seu Eu em plenitude de Luz. Libertou-se do pecado. Renasceu gloriosamente.

O silêncio e a ausência de obstáculos simbolizam a Paz, a Harmonia e a Tranqüilidade. É um homem sereno, que encontrou a mansidão e que foi premiado.

É uma nova criatura que pode prestar um juramento de fazer a vontade do Grande Arquiteto do Universo. É finalmente aquele homem “Livre e de Bons Costumes”.

Não há nenhuma vantagem em preparar o homem para sua Vida depois da “desencarnação”, no sentido de sua morte física.

Todos desencarnarão; é uma Lei.

Perscrutar o além para conhecer-se do destino daquelas que desencarnam constitui a ciência do espiritismo, que evidentemente não é ­Maçonaria.

O que se torna interessante e atraente, seduz e enlouquece (no sentido figurativo), é a possibilidade de “viver” a vida do espírito, ­permanecendo, porém, sempre na carne.

Não constitui, em absoluto, uma novidade, pois nos socorremos, ainda, de São Paulo (não como propósito de fazer proselitismo cristão) que conta a sua própria experiência: (2º Coríntios 12:2):

“Já que é preciso gloriar-se alguém — embora não convenha — passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem (ele próprio) em Cristo (no seu Eu) que há quatorze anos foi arrebatado ao terceiro céu— se em corpo não sei, se fora do corpo, não sei; Deus sabe — o que sei desse homem é que foi arrebatado ao Paraíso — dentro ou fora do corpo não sei; Deus o sabe — e percebeu coisas misteriosas, que a nenhum homem é concedido exprimir; mas de mim mesmo não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas.”

Todo maçom, pelo seu espírito de pesquisa e pela liberdade e prazer que encontra em ler, evidentemente, já tratou com espíritas destes assuntos e não lhe será estranha a afirmação de São Paulo.

Ninguém precisa morrer para viver a Vida Dupla, aqui entre homens, como homem, e nos Céus (Cosmos ou Infinito) na qualidade de Iniciado.

Ninguém tente contornar obstáculos e nem criá-los para os outros ou para si próprio. Os empecilhos são feitos para serem vencidos.

A inteligência cria os obstáculos, mas a razão os vence!

 

 

<p>As Posturas</p> Cada grau tem as suas próprias posturas, posição que o maçom assume dentro da Loja. Em sua marcha, quando assentado, quando de pé, quando em cerimônia.

A postura do maçom sentado não representa somente uma tradição. Vemos nos afrescos egípcios as figuras em posição estranha para nós, ocidentais. Na Índia, na China e no Japão, as antigas estátuas foram esculpidas e moldadas em posições exóticas. Quando um hindu senta e pratica “yoga”, fá-lo na posição chamada de “padmásana” ou “flor-de-lótus”, pois imita essa flor sagrada.

A posição do corpo faz com que o maçom recarregue as suas baterias mental e fisicamente.

O sentar-se inconvenientemente durante os trabalhos maçônicos, sem observar rigorosamente as posturas do ritual, poderá acarretar prejuízos, tanto físicos como espirituais.

O pensamento iníquo pode causar sério abalo na saúde do corpo; forjando intencionalmente pensamentos justos, a saúde abalada pode ser restabelecida.

Se durante uma Cadeia de União nossa posição não for correta, não haverá harmonia. Os elos serão díspares e o resultado neutro.

Fazendo-se o sinal “gutural”, de modo imperfeito (como sói acontecer), a tireóide não será beneficiada, a paixão e a emoção não serão controladas e o equilíbrio ficará abalado.

Todos possuímos uma força vital a serviço de nossa saúde, inteligência e espiritualidade. Quem souber dirigir corretamente essa força estimulando ao máximo o seu livre fluir, obterá grandes benefícios. As posturas maçônicas são destinadas a esse estímulo.

O maçom que assistir a uma reunião, por longa que seja, mantendo-se corretamente nas posturas ritualísticas, sairá da Loja aparentemente ­cansado, mas o esforço físico transformar­se-á em verdadeiro relaxamento muscular, e notará no dia seguinte grande disposição para as suas atividades costumeiras.

Porém, se permanecer defeituosamente posto, nas reuniões, sentir-se-á realmente esgotado e sairá da Loja com a impressão de que a reunião foi maçante e sem interesse.

A Maçonaria, como conjunto de atividades científicas, não teria introduzido para os seus obreiros as posturas como atitude meramente estética ou mística.

Tudo tem razão de ser. Se um objeto, por mais simples que seja, tem um significado simbólico para completar o conjunto da Instituição, postura, evidentemente, é o resultado de um estudo profundo e plenamente ­aprovado.

“O homem é espírito vestido de carne. Nele se refletem as leis assim do espírito como do corpo. O fluxo de energia vital manifesta-se no gênero humano — desde o Eu absoluto, espiritual, até o plano material, o corpo — em todos os níveis. A energia que se manifesta no plano espiritual mais próximo do Eu é positiva. A energia mais afastada do Eu, isto é, a que anima o corpo, é negativa.

“A energia positiva é doadora da vida, a energia negativa é receptora e condutora de vida. Enquanto ambas estiverem em equilíbrio, estará o indivíduo mental e fisicamente bem; mas tanto que ele dirige unilateralmente a consciência para o plano espiritual ou para o plano físico, permite o acesso de várias castas de irregularidades.”

A experiência ensina-nos que a pessoa que se dedica-nos atividade constante mental apresenta uma constituição física frágil e delicada; uma postura adequada, em ambiente propício, proporcionará o equilíbrio necessário para restabelecer as perdas físicas.

Enquanto em postura correta, o Maçom eduzirá de dentro de si próprio, do seu Eu interno, a energia necessária para o seu bem­estar, irradiando, ainda, o que lhe sobra, em benefício de seu irmão; haverá constante troca de benefícios mútuos.

O egoísta e o negativo aspiram receber energia de fora e não concebem que possa extrair algo de si próprio. Quem está pronto a dar, receberá.

Uma orientação adequada, partida de um verdadeiro Mestre, proporcionará ao maçom o aperfeiçoamento almejado. O aumento de salário consistirá na aquisição de outras e mais outras posturas.

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