SÃO JOÃO E A TRADIÇÃO MAÇÔNICA

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Na mesma data em que se comemora o solstício de verão, 24 de junho, no Hemisfério Norte, dia de São João Batista, estamos comemorando aqui, o solstício de inverno. Recordemos as festas juninas (São João). No dia 25 de dezembro, comemoramos o solstício de verão e, no Hemisfério Norte, o solstício de inverno. É a data do nascimento de Avatares como: Krishna, Mitra, Hórus, Buda e Jesus Cristo, todos considerados grandes Sóis (Deuses).

Escavando profundamente alguns trabalhos publicados, descobre-se a evidência de que a personalidade de Jesus está totalmente baseada em mitos e heróis muito mais antigos em torno do globo. Algumas provas disso estão na semelhança com a história, por exemplo, de Krishna, Buda, Hórus e Mitra; vejamos:

 

Krishna: Nasceu de uma virgem, Devaki;

É chamado de o Pastor de Deus, a Suprema Consciência;

É a segunda pessoa da Trindade;

Executava milagres;

Foi perseguido por um tirano em sua infância;

Subiu ao Céu.

 

Buda: Nasceu também de uma virgem, Maya;

É chamado de Pastor Bom;

Executava milagres;

Atingiu a Iluminação.

 

Hórus: Nasceu de uma virgem, no dia 25 de dezembro;

É considerado o Messias, a Luz e a Verdade;

É chamado de Pastor Bom e de KRST — O Filho Ungido de Deus;

Executava milagres;

Tinha 12 discípulos;

Foi enterrado e, no terceiro dia, ressuscitou um homem.

 

Mitra: Nasceu de uma virgem, também em 25 de dezembro;

Era chamado de Mestre e de o Pastor Bom;

Era considerado a Verdade, a Luz, o Redentor, o Salvador, o Messias;

Era identificado com o Leão e o Cordeiro;

Executava milagres;

Teve 12 discípulos;

Também ressuscitou após o terceiro dia;

Seu dia era o Domingo (dia do Senhor).

 

É óbvio que, se quiséssemos, descreveríamos muito mais detalhes acerca desses mitos, comparando-os com a vida de Jesus Cristo, mas isso é apenas uma pequena prova de como foi e é criado um mito e de como a história pode ter sido corrompida por interesses daqueles que dominavam o povo e o Estado.

 

Agora, percebam que quem trouxe a Maçonaria para o Hemisfério Sul, não se preocupou com isso. Simplesmente copiou seus Templos com as mesmas características, esquecendo-se de “inverter as posições” de suas “estrelas”, seus “planetas” e também o altar de nossas Dignidades.

A Terra faz um movimento de translação ao redor do Sol em uma órbita plana, quase redonda, com período definido de um ano. Enquanto isso, ela gira em torno de si mesma, originando os dias. O equinócio (Do latim: aequinoctiu = noite igual; aequale = igual + nocte = noite) é o ponto da órbita da Terra onde a duração do dia e da noite são iguais. É o dia a partir do qual, os dias ou as noites começam a crescer (respectivamente primavera e outono), até que se chegue ao solstício (Do latim: solstitiu = Sol Parado), que é o ponto da órbita da Terra onde existe a maior disparidade entre a duração do dia e da noite. Os solstícios são, então, o dia e a noite mais longos do ano (no verão e inverno, respectivamente).

Iniciando então no solstício de inverno (noite mais longa do ano), é a partir dessa data que os dias começam a crescer, até que se alcance uma igualdade entre o dia e a noite (equinócio de primavera), e continua até o ápice do dia no solstício de verão (dia mais longo do ano), data a partir da qual os dias diminuirão até que, mais uma vez, a igualdade se faça presente entre dia e noite (equinócio de outono), seguindo, novamente, para o solstício de inverno, onde começamos nossa explicação, em um ciclo perpétuo.

Durante o intervalo de um ano temos dois solstícios e dois equinócios. Desse modo é possível dividir o intervalo de um ano em quatro períodos, a saber: Primavera, Verão, Outono e Inverno. Esses períodos são chamados de estações do ano. As estações do ano são conseqüência das variações da inclinação do eixo da Terra, girando em sua órbita elíptica em torno do Sol. Não tem a ver com a distância da Terra ao Sol.

O solstício deve ser comemorado com “ágapes solsticiais”. Isso não significa se reunir para comer ou beber, mas sim para compartilhar, agradecer e unir energias a serviço do “Mais Elevado” e da ajuda à humanidade. E por esse motivo, compartilhar uma comida simples.

O historiador José Castellani, explica: “Por herança recebida dos membros das organizações de ofício, que, tradicionalmente, costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à Maçonaria moderna, mas já temperada pela influência da Igreja sobre as corporações operativas. Como as datas dos solstícios são 21 de junho e 21 de dezembro, muito próximas das datas comemorativas de São João Batista, 24 de junho, e de São João Evangelista, 27 de dezembro, elas acabaram por se confundir com estas, entre os operativos, chegando à atualidade. Hoje, a posse dos Grão-Mestres das Obediências e dos Veneráveis Mestres das Lojas realiza-se a 24 de junho, ou em data bem próxima; e não se pode esquecer que a primeira Obediência maçônica do mundo foi fundada em 1717, no dia de São João Batista.

Graças a isso, muitas corporações, embora houvesse um santo protetor para cada um desses grupos profissionais, acabaram adotando os dois São João como padroeiros, fazendo chegar esse hábito à moderna Maçonaria, onde existem, segundo a maioria dos ritos, as Lojas de São João, que abrem os seus trabalhos (à glória do Grande Arquiteto do Universo Deus e em honra a S. João, nosso padroeiro), englobando, aí, os dois santos.

No templo maçônico, essas datas solsticiais estão representadas num símbolo, que é o Círculo entre Paralelas Verticais e Tangenciais. Este significa que o Sol não transpõe os trópicos, o que sugere, ao maçom, que a consciência religiosa do Homem é inviolável; as paralelas representam os trópicos de Câncer e de Capricórnio e os dois S. João.

Tradicionalmente, por meio da noção de porta estreita, como dificuldade de ingresso, o maçom evoca as portas solsticiais, estreitos meios de acesso ao conhecimento, simbolizados no círculo cósmico, no círculo da vida, no zodíaco, pelo eixo Capricórnio Câncer, já que Capricórnio corresponde ao solstício de inverno e Câncer ao de verão (no Hemisfério Norte, com inversão para o Sul). A porta corresponde ao início, ou ao ponto ideal de partida, na elíptica do nosso planeta, nos calendários gregorianos e também em alguns pré-colombianos, dentro do itinerário sideral.

O homem primitivo distinguia a diferença entre duas épocas, uma de frio e uma de calor, conceito que, inicialmente, lhe serviu de base para organizar o trabalho agrícola. Graças a isso é que surgiram os cultos solares, com o Sol sendo proclamado – como fonte de calor e de luz – o rei dos céus e o soberano do mundo, com influência marcante sobre todas as religiões e crenças posteriores da humanidade. E, desde a época das antigas civilizações, o homem imaginou os solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical.

A personificação de tal conceito, no panteão romano, foi o deus Janus, representado como divindade bifásica, graças à sua marcha pendular entre os trópicos; o seu próprio nome mostra essa implicação, já que deriva de janua, palavra latina que significa porta. Por isso, ele era, também, conhecido como Janitur, ou seja, porteiro, sendo representado com um molho de chaves na mão, como guardião das portas do céu. Posteriormente, essa alegoria passaria, através da tradição popular cristã, para São Pedro, mas sem qualquer relação com o solstício.

Janus era um deus bicéfalo, com duas faces simetricamente opostas, cujo significado simbolizava a tradição de olhar, uma das faces, constantemente, para o passado, e a outra, para o futuro. Os Césares da Roma imperial, em suas celebrações e para dar ingresso ao Sol nos dois hemisférios celestes, antepunham o deus Janus, para presidir todos os começos de iniciação, por atribuir-lhe a guarda das chaves.

Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental, quanto para o ocidental o solstício de Câncer, ou da Esperança, alusivo a São João Batista (verão no Hemisfério Norte e inverno no Hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens, enquanto que o solstício de Capricórnio, ou do Reconhecimento, alusivo a São João Evangelista (inverno no Hemisfério Norte e verão no Hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta dos Deuses. Para os antigos egípcios, o solstício de Câncer (Porta dos Homens) era consagrado ao deus Anúbis; os antigos gregos o consagravam ao deus Hermes. Anúbis e Hermes eram, na mitologia desses povos, os encarregados de conduzir as almas ao mundo extraterreno .

A importância dessa representação das portas solsticiais pode ser encontrada com o auxílio do simbolismo cristão, pois, para o maçom, as festas dos solstícios são, em última análise, as festas de São João Batista e de São João Evangelista. São dois São João e há, aí, uma evidente relação com o deus romano Janus e suas duas faces: o futuro e o passado, o futuro que deve ser construído à luz do passado. Sob uma visão simbólica, os dois encontram-se num momento de transição, com o fim de um grande ano cósmico e o começo de um novo, que marca o nascimento de Jesus: um anuncia a sua vinda e o outro propaga a sua palavra. Foi a semelhança entre as palavras Janus e Joannes (João, que, em hebraico é Ieho-hannam = graça de Deus) que facilitou a troca do Janus pagão pelo João cristão, com a finalidade de extirpar uma tradição “pagã”, que se chocava com o cristianismo. E foi desta maneira que os dois São João foram associados aos solstícios e presidem as festas solsticiais.

Continua, aí, a dualidade, princípio da vida: diante de Câncer, Capricórnio; diante dos dias mais longos, do verão, os dias mais curtos, do inverno; diante de São João (do inverno), com as trevas, Capricórnio e a Porta de Deus, o São João (do verão), com a luz, Câncer e a Porta dos Homens (vale recordar que, para os maçons, simbolicamente, as condições geográficas são, sempre, as do Hemisfério Norte).

Dentro dessa mesma visão simbólica, podemos considerar a configuração da constelação de Câncer. Suas duas estrelas principais tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i = diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradição hebraica, as duas estrelas são chamadas de Haiot Ha-Kadosh, ou seja, animais de santidade, designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph e Beth, correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas, há um pequeno conglomerado de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa presépio, estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francês, é crèche, também com o significado de presépio, manjedoura, berço. Essa palavra créche já foi, inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde crianças novas são acolhidas, temporariamente.

Esse simbolismo dá sentido à observação material: Jesus nasceu a 25 de dezembro, sob o signo de Capricórnio, durante o solstício de inverno, sendo colocado em uma manjedoura, entre um asno e um boi. Essa data de nascimento, todavia, é puramente simbólica. Para os primeiros cristãos, Jesus nascera em julho, sob o signo de Câncer, quando os dias são mais longos no Hemisfério Norte.

O sentido cristão, no plano simbólico, abordaria, então, apenas a Porta dos Homens e, assim, só haveria a compreensão de Jesus, como ser, como homem. Mas Jesus é o ungido, o messias, o Cristo – segundo a teologia cristã – e o outro polo, obrigatoriamente complementar, é a Porta de Deus, sob o signo de Capricórnio, tornando a dualidade compreensível.

Dois elementos, entretanto, um material e um religioso, viriam a influir na determinação da data de 25 de dezembro. O material refere-se aos hábitos dos antigos cristãos e o religioso, ao mitraismo da antiga Pérsia, adotado por Roma:

Os primeiros cristãos do Império Romano, para escapar às perseguições, criaram o hábito de festejar o nascimento de Jesus durante as festas dedicadas ao deus Baco, quando os romanos, ocupados com os folguedos e orgias, os deixavam em paz.

Mas a origem mitraica é a que é mais plausível para explicar essa data totalmente fictícia: os adeptos do mitraismo costumavam se reunir na noite de 24 para 25 de dezembro, a mais longa e mais fria do ano, numa festividade chamada – no mitraismo romano – de Natalis Invicti Solis (nascimento do Sol triunfante). Durante toda a fria noite, ficavam fazendo oferendas e preces propiciatórias, pela volta da luz e do calor do Sol, assimilado ao deus Mitra. O cristianismo, ao fixar essa data para o nascimento de Jesus, identificou-o com a luz do mundo, a luz que surge depois das prolongadas trevas”.

 

O BATISTA

São João Batista, também dito “o Precursor”, era filho de Isabel, prima da Virgem Maria e, por conseguinte, também parente de Jesus. Ele ganhou o epíteto de “batista” porque, no rio Jordão, “batizava” as pessoas, derramando-lhes água sobre as cabeças, assim limpando-as espiritualmente (batismo significa banho). Era também conhecido por viver no deserto, alimentando-se de mel e gafanhotos, vestindo apenas com uma pele de carneiro, andando assim meio nu, meio vestido. Seguramente, pertencia, entre os judeus, ao grupo dos essênios, que vivia em Qunram, perto do mar Morto. Local onde, em 1947, foram encontrados alguns documentos de sua época. Tinha vários seguidores, mas se dizia Precursor de Alguém Maior que ele, e de quem não era digno sequer de “lhe desatar as sandálias.” Vituperava a Herodes Antipas, o rei imposto pelos romanos aos judeus, porque Antipas mandara matar a seu meio-irmão para ficar com a sua esposa. Antipas mandou decapitar a João Batista, atendendo ao pedido de Salomé, sua enteada, filha de seu meio-irmão, acima referido.

O dia 24 de junho foi estipulado pela Igreja Católica como o de sua comemoração.

 

O EVANGELISTA

O outro São João, o Evangelista, era apóstolo de Jesus. Chamam-no de Evangelista porque, além de pregar os ensinamentos do Mestre, foi o autor do 4o Evangelho, de três epístolas e do famoso Apocalipse. Essa palavra quer dizer “revelação”. Nele, João relata as revelações que teria tido sobre o fim dos tempos e dos caminhos para a salvação. Por falar no fim dos tempos, catástrofes, guerras, pestes, castigos, a palavra “apocalipse” ganhou a conotação de “algo ruim, apavorante, cataclísmico, terrificante”. A linguagem é extremamente simbólica, de difícil compreensão. É comemorado em 27 de dezembro.

 

MAÇONARIA OPERATIVA

Na verdade, porém, como vem registrado no item XXII, dos Regulamentos Gerais das Constituições de Anderson, de 1723, e com elas publicados, o dia que os maçons operativos do passado tinham escolhido para a reunião anual era o de São João Batista, em 24 de junho, ou, opcionalmente, no dia de São João Evangelista, em 27 de dezembro. Mas, com ênfase ao primeiro. Aliás, notem que a fundação da Grande Loja de Londres, em 1717, ocorreu precisamente nesse dia, 24 de junho. Veja-se como vem redigido esse cânone dos Regulamentos Gerais, aprovados, pela segunda vez, no dia de São João, 24 de junho de 1721, por ocasião da eleição do Príncipe João, duque de Montagu, para Grão-Mestre:

“XXII. Os Irmãos de todas as Lojas de Londres e Westminster e das imediações se reunirão em uma COMUNICAÇÃO ANUAL e Festa, em algum Lugar apropriado, no Dia de São João Batista ou então no Dia de São João Evangelista, como a Grande Loja pensa fixar por um novo Regulamento, pois essa reunião ocorreu nos anos passados no Dia de São João Batista: Provido(…)”

 

RAZÕES ESOTÉRICAS

Só por uma segunda opção a reunião e festa ocorreria, portanto, no dia 27 de dezembro, na festa do outro São João. Mas, por quê? O porquê dessa alternativa tem uma explicação esotérica, que remonta às prováveis origens da Maçonaria, aos Colegiatti Fabrorum dos romanos. Eles acompanhavam as tropas romanas, para o trabalho de reconstrução e instalação da administração imperial, nas terras conquistadas e colonizadas. E com eles ia a sua religião ou religiões, para ser mais exato, ainda que entre os romanos a predominante fosse a da adoração à Mitra, que era representado por uma figura humana. No lugar da cabeça, um Sol. Havia muitos outros deuses, notadamente, Jano, com suas cabeças que, sabidamente, simbolizavam os solstícios. Esses solstícios estavam sempre presentes nas festas pagãs, porque eram vinculadas à Natureza. É aí que encontramos uma provável explicação histórica para os festejos juninos e natalinos, que a nova religião romano-cristã, não podendo desenraizar dos costumes populares, o mínimo que conseguiu foi a substituição. Todavia, no seio da Maçonaria operativa, mesmo sob tal disfarce, ambas as datas sobreviveram, em face do conteúdo esotérico de seus significados. Os colégios, principalmente os dos construtores, seriam depositários dos conhecimentos e mistérios de antiqüíssimas sociedades iniciáticas, todas praticantes de ritos solares.

 

*Wagner Veneziani Costa, Grande Secretário de Cultura e Educação Maçônicas do GOSP.

 

Fontes de Consulta:

Introução ao Livro de Hiram – Madras Editora

Ir. Silva Pinto, Loja Virtual da Arte Real

José Castellani – www.maçonaria.net

 

 

 

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